A poesia aplica-se sobre a pele como uma creme
A mão macia percorre os cantos do corpo
Descobre uma entrada carregada de pelugem
Parece um fungo inerte que cospe sangue
É através da sua existência que perdura a virgindade
A mão sobre os seios que endurecem precocemente
E os dedos exageram na sua penetração
O ar é preenchido por gemidos privados
A paisagem é untada por um cheiro agridoce
Quando a salpica num instante e desaparece
Os segundos iluminam-se sobre a cama
Prepara-se para uma réplica de prazer
Tão frequente quanto um raio de luz
Que a penetra solenemente
É o milagre da multiplicação dos dedos
Que num instante delinearam o prazer
Que restringe ou separa o homem do divino
A depravação da deriva que instala a loucura
Numa certeza inapropriada para ser descrita
Por palavras inócuas e vãs e gratuitas
E relatadas nos livros da heresia religiosa