Saturday 28 February 2009

Friday 27 February 2009

Courbet

A saliva transpira da língua da prostituta
Para um aquário de sereias suicidas
A inquietação do fervor experiente
Que se enrola nas hélices dos navios
E cobram a vida por cada foda natural
A penetração efectua-se com gentileza
Se fores uma mulher serás ninfa de Portugal
A proa desaparafusada e os seios de pombo
Por cada beijo os tiros perfuram as paredes
Do cubículo com luz vermelha introspectiva
Perfumado com o odor de outras mulheres
Na posição de missionária do nascimento do Brasil
Com assas flutuantes por canais da perdição
No espelho oferece a sua geografia feminina
À cadencia do carnaval do Rio de Janeiro
O chocalhar das lantejoulas na sua púbis
A veia central é rectificada pelo esperma
Transborda das margens que separam um risco
Para prolongar o amor para além de três dias
E isentar a vida das sombras cavernosas
Dependuradas do céu azul turquês

Monday 23 February 2009

Sunday 22 February 2009

Auto-Retrato

Sou a inconsciência da mistura da cor
O artista que se sacrifica por uma paisagem
Que a transpõe para o circuito sanguíneo
Todos os meus excrementos são arte
A vela sobre a cadeira ou o quarto
Penduro-me na pétala de um girassol
O céu laranja circular remoinho de sol
As cores são tão sanguinárias que turvam
A imaginação obliterada por pensar em Gaugin
Que me abandonou pelas ilhas Marquesas
Por ele acendo o cachimbo e emborco absinto
Sento-me na cama e acendo uma vela
No espelho está a sua imagem
Deixo cair o meu olhar para o interior
O meu cabelo ruivo, olhar azul e barba
Seguro numa faca de matança aos porcos
E coloco a lâmina sobre a soldadura
Entre o cérebro e o rosto e faço força
Grito e o sangue escorre pelo pescoço
Deito a orelha no alguidar sujo
Gaugin dá-me a sua mão e sou eu

Saturday 14 February 2009

Friday 13 February 2009

The Vivian Girls

As lagartas espalham-se em círculos
Fornicam com louva-a-deus e lagostas
A branca de neve beija um sapo verde
Num ritmo tropical de prazer quente
O segredo encontra-se nos lábios
Rosas com as pétalas em chamas
Circular ou vertical ou oral?
Por cada chupão que morde os seios
Tenazes como abóboras abortivas
Percorridas no salivar do pincel
Os animais saltitam e inspiram medo
Testemunham a presença de uma menina
Que desequilibra a natureza animal
Numa teia de miscigenação
Que representa o fim da virgindade
A flor é a sua mãe a emocionar-se
Num crescente imiscuir colorido
É a reprodução de um sonho
A inquietação de criar a anarquia
Por oposição à sombra paternal
A pátria onde não há realidade.

Saturday 7 February 2009

Friday 6 February 2009

Francis Bacon

Bebo um wiskey e queimo incenso
Num espaço de paredes frias
Preencho as paredes de cadáveres
Retalho um rosto e colo-o à tela
O sangue circula sobre o branco
Deponho o resto do corpo preso à sanita
Para que não fujas para a prostituição
E sejas o meu modelo esfomeado
O que rasteja por mais atenção
Suplica pela restituição da vida
Aplicada numa partitura críptica
O laranja e o negro são misturados
Recorto-lhe o escalpe com a navalha
Os seus gritos são abafados pela sanita
Com o telefone dou-lhe um banho quente
O vermelho alaga a minha tela tríptico
No centro Jesus à espera de redenção
Os corvos e os abutres estão de luto
Devoram os corpos e o sangue seco
Procriam à mercê dos predadores

Thursday 5 February 2009

Wednesday 4 February 2009

Balthus

A poesia aplica-se sobre a pele como uma creme
A mão macia percorre os cantos do corpo
Descobre uma entrada carregada de pelugem
Parece um fungo inerte que cospe sangue
É através da sua existência que perdura a virgindade
A mão sobre os seios que endurecem precocemente
E os dedos exageram na sua penetração
O ar é preenchido por gemidos privados
A paisagem é untada por um cheiro agridoce
Quando a salpica num instante e desaparece
Os segundos iluminam-se sobre a cama
Prepara-se para uma réplica de prazer
Tão frequente quanto um raio de luz
Que a penetra solenemente
É o milagre da multiplicação dos dedos
Que num instante delinearam o prazer
Que restringe ou separa o homem do divino
A depravação da deriva que instala a loucura
Numa certeza inapropriada para ser descrita
Por palavras inócuas e vãs e gratuitas
E relatadas nos livros da heresia religiosa